terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Acalanto (o barco e eu)

Se o carro balançava, o barco balançava ainda mais.
Na margem, salgado. No mar também.
Era eu e ele, ele e eu, e a tempestade á nossa espera.

O gosto de sal no canto da boca, vinha do mar de lágrimas que nos embalava. Nossa tontura justificava os calafrios e o vento gélido que soprava contra nossos cabelos aclamava o pranto. 
Então tínhamos uma tempestade a nossa frente e o fantasma de um futuro certeiro que infelizmente, estava escrito no mapa astral e nos amedrontava. Não tínhamos escapatória e a solidão nos saudava. Podia sentir minhas vísceras congelando e a dor era insuportável: doíam os olhos cansados, os lábios cerrados, a garganta cortada e o peito arrancado.
Então estávamos eu e ele á deriva na solidão. Nossos esqueletos boiavam no oceano negro que era tão imenso quanto nosso desespero. Não havia terra firme, não havia salva-vidas, não havia nada além da nossa dor.
E se no horizonte havia medo, nos encontrávamos em meio a ele. Sem direção, íamos indo onde a maré nos afogava e entre soluços e suspiros profundos, algo nos puxava para o fundo do oceano. Era difícil de respirar, apesar de o mar ser tão natural para ambos, pois sempre nos aventurávamos em suas ondas famintas e saíamos ilesos. Mas dessa vez, nadávamos em um pesadelo de melancolia e desespero. 
No fundo do mar, monstros nos esperavam com suas bocas arreganhadas e seus olhos intimidadores, e na superfície, cumulus nimbus de tamanhos descomunais engoliam o céu e despejavam uma chuva tão ácida quanto nossas lágrimas. E íamos nos embolando entre rajadas de ventos certeiros, ondas macabras, monstros devoradores, futuros melancólicos, tempestades mortais, dores nas entranhas, gosmas nos olhos, calafrios amedrontadores e qualquer coisa que possa ser extremamente assustadora.
E antes de perder toda e qualquer esperança, joguei uma garrafa e um pergaminho escrito á sangue o mais longe que pude, na esperança de ser salva por você. 
"Não".
Me deixei levar pelo mar. Estava perdida, eu e ele, na imensidão do oceano -que não era maior que minha mágoa- e fui reduzida a um insignificante grão de areia perdido na profundidade do meu medo.


E aquele foi meu último suspiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário