Se o carro balançava, o barco balançava ainda mais.
Na margem, salgado. No mar também.
Era eu e ele, ele e eu, e a tempestade á
nossa espera.
O gosto de sal no canto da boca, vinha do
mar de lágrimas que nos embalava. Nossa tontura justificava os calafrios e o
vento gélido que soprava contra nossos cabelos aclamava o pranto.
Então tínhamos uma tempestade a nossa
frente e o fantasma de um
futuro certeiro que infelizmente, estava escrito no mapa astral e nos
amedrontava. Não tínhamos escapatória e a solidão nos saudava. Podia sentir
minhas vísceras congelando e a dor era insuportável: doíam os olhos cansados,
os lábios cerrados, a garganta cortada e o peito arrancado.
Então estávamos eu e ele á deriva na
solidão. Nossos esqueletos boiavam no oceano negro que era tão imenso quanto
nosso desespero. Não havia terra firme, não havia salva-vidas, não havia nada
além da nossa dor.
E se no horizonte havia medo, nos
encontrávamos em meio a ele. Sem direção, íamos indo onde a maré nos afogava e
entre soluços e suspiros profundos, algo nos puxava para o fundo do oceano. Era
difícil de respirar, apesar de o mar ser tão natural para ambos, pois sempre
nos aventurávamos em suas ondas famintas e saíamos ilesos. Mas dessa vez,
nadávamos em um pesadelo de melancolia e desespero.
No fundo do mar, monstros nos esperavam
com suas bocas arreganhadas e seus olhos intimidadores, e na superfície, cumulus
nimbus de tamanhos descomunais engoliam o céu e despejavam uma chuva tão ácida
quanto nossas lágrimas. E íamos nos embolando entre rajadas de ventos
certeiros, ondas macabras, monstros devoradores, futuros melancólicos,
tempestades mortais, dores nas entranhas, gosmas nos olhos, calafrios
amedrontadores e qualquer coisa que possa ser extremamente assustadora.
E antes de perder toda e qualquer
esperança, joguei uma garrafa e um pergaminho escrito á sangue o mais longe que
pude, na esperança de ser salva por você.
"Não".
Me deixei levar pelo mar. Estava perdida,
eu e ele, na imensidão do oceano -que não era maior que minha mágoa- e fui
reduzida a um insignificante grão de areia perdido na profundidade do meu medo.
E aquele foi meu último suspiro.
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