quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Há-temporal

Sempre fui atemporal
Portanto, impalpável
Intocável
Destrutível

O tempo me soa fictício
Por vezes me toma de boba, me engana, vai embora
Mas furioso, destrói as paredes da casa
Tão lentamente
Que me paralisa em desespero

Me olho no espelho e quanto tempo já passou?
Ele me tomou e eu nem vi
Quanto tempo já passou desde hoje de manhã?
Quanto de mim ele levou?

Por ora, busco um acordo
Afinal, preciso me encontrar em mim
Sem loucuras, sem temores
Mas se eu passar por aqui de novo, já não sou mais eu

-Dez.15-




quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Crochê

Sou feita de água
Mas meu ar é linha
Quando falho, desfia
Quando medo, dá nó

Sobretudo, me permito trans-bordar de amor.

-Nov.15-

sábado, 31 de outubro de 2015

Terreno infértil

Aqui nessa casa todo mundo é triste
Todo mundo é tédio
Todo dia é nada
Toda dor é causa
Da incompatibilidade do mundo

As portas são fechadas
Pra não estourar as bolhas
E eles ainda vão morrer sufocados
Vão virar jarros e estofados
Vão deixar de ser
Pra morrer de tempo.


-Out.15-

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Das coisas que você devia ter me escrito

Pra que toda essa raiva, menina?
Seu amor está seguro comigo
O segredo é nosso
Ninguém prova da nossa delícia
Então feche os olhos e respire fundo
E vá cuidar de si
Que o tempo passa a seu favor
Eu sou minha
Você é sua
E só assim somos nós.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

O momento presente é inevitável

No final, o homem morre e a moça chora
Mas não posso começar a ler um livro
Senão pelo começo
Jamais pelo final
Afinal, o gozo custa o esforço
E quanto mais bem provocado, mais suado, mais gostoso


-Set.15-



sexta-feira, 17 de julho de 2015

Imersão

Tenho o pulmão insípido, inodoro, incolor
Sou líquida, corrente, enchente
Encharco os olhos, diluo a vida e deságuo em dor.


-Abr.2015-

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Em.Canto




Você combina com a mobília.

Combina com as almofadas do sofá, com o chão de madeira escura e com os copos de vidro coloridos
Reluz no reflexo dos espelhos que sempre sorriem ao te ver passar
Você cabe na minha banheira, no meu travesseiro, nos meus moletons, nas molduras das pinturas
Você combina com os quadros da sala, com a estampa da poltrona, com a cortina branca e com os tons quentes da tarde que cai
Você combina com armário bagunçado, o lençol limpo e com todos os livros empilhados nas estantes
Te vejo segurando o controle da TV pra escolher os filmes que vamos pegar no sono assistindo
Te vejo repousando na janela, trancando a porta da frente, estendendo a toalha molhada
Te vejo comprando as frutas, fazendo o molho, botando a cerveja no freezer, estourando a garrafa de vinho do porto e pegando no sono antes da hora

Te vi no meu canto e fiz de você meu lar.



terça-feira, 30 de junho de 2015

Todo o meu amor é seu



(Ilustração autoral)

domingo, 21 de junho de 2015

De qualquer forma

Com os olhos abertos o mundo é horrível
Com os olhos fechados, horrível sou eu
Ou ao contrário
Mas de qualquer forma não há escape
E eu já nem sei mais o que é realidade

-Mai.2015-

domingo, 7 de junho de 2015

Saboreio em liberdade

Que gosto é esse?
Desconheço.
É felicidade?
É esse o gosto que tem?
Não sei qual foi a última vez que a saboreei em liberdade
Reconheço o gosto da tristeza, do fracasso e do rancor
Não sei se já derramei lágrimas de alegria ou respirei com tanta facilidade
Talvez essa seja a primeira vez

Finalmente cheguei á superfície depois de tanto tempo naufragada em um oceano de melancolia, que me impedia de ver o céu azul e a beleza que é o nascer do sol e a manhã de um novo dia.
Há muito tempo não sei o que é me sentir inteira e esperançosa.
Não lembrava mais do gosto da esperança ardendo na boca e a sensação é deliciosa.
Durante muito tempo fui me repartindo em mil pedaços, mas agora sou inteira alegria e me pertenço em liberdade.



-Jun.2015-

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Campo de Girassóis



A primeira coisa que sinto é o cheio da fumaça e de longe, posso vê-la poluindo o céu.
Em poucos minutos, um trem passará por cima daquele corpo estirado no chão, esmagará todos os ossos, espalhará as entranhas por todo o campo de girassóis e seguirá seu caminho.
E posso assistir tudo aqui do alto da colina.
O maquinista soa o apito com os olhos aflitos ao ver o corpo estirado, mas ele não se move.
Não há mais pra onde ir.
Talvez, quando o trem estiver a poucos metros dos pés, alguma coisa aconteça. Talvez aquele coração volte a pulsar através da adrenalina que talvez acenda o corpo. Talvez haja medo. Mas não se trata mais de medo: a indiferença sobre a morte e a vida é pior do que medo ou coragem.
E o espaço entre o trem e o corpo fica cada vez menor, o barulho das rodas cada vez mais alto, a fumaça mais densa e intragável e os olhos do maquinista mais aflitos.


Agora, a colisão.


           .
           .
           .
           .


Tem um trem em cima do meu corpo. Ele não freou, apesar do maquinista ter soado o apito. Trens não freiam, e mesmo sabendo disso, continuei deitada sobre os trilhos. A colisão entre o meu corpo e o trem é tão indiferente quanto a vida ou a morte. Meus ossos estão quebrados, minhas entranhas espalhadas pelo campo de girassóis e aos poucos, o trem vai se afastando lentamente, deixando pra trás o meu corpo estraçalhado.
Em nenhum momento houve medo ou coragem. Não se tratava disso. Minha incapacidade de sentir qualquer emoção foi o que me deitou ali. Quem sabe, se o trem se aproximasse dos meus pés, alguma coisa acontecesse. Talvez meu coração voltasse a pulsar através da adrenalina que talvez tomasse meu corpo. Talvez eu tivesse medo e fugisse. Talvez eu sentisse um enorme prazer pela morte ou pela dor. E eu suplicava pra sentir qualquer coisa, nem que fosse dor. Mas o trem foi chegando cada vez mais perto e minha indiferença sobre a colisão permanecia gélida.
E agora, meu corpo foi esmagado por 36 vagões de carga, meus ossos viraram pó, minhas vísceras estão á mostra, meu rosto completamente desfigurado e meu coração já não bate, apesar de'u permanecer viva.
Levanto com minhas pernas quebradas e saio andando, como se absolutamente nada tivesse acontecido. Mal senti o peso da máquina.
E ainda me resta uma eternidade inteira pra eu percorrer no campo de girassóis, com um coração incapaz de gerar qualquer sentimento e uma vida completamente vazia de objetivos.
Uma vida inútil com todos os vagões vazios.

E posso assistir tudo aqui do alto da colina.




-Abril.2015-

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Cúmplice



Sou cúmplice do seu refrão
Cúmplice das suas tramas e dos seus crimes
Fecho os olhos e me equilibro na corda-bamba da sua inconstância
Confiança de trapezista sem rede de proteção


Só não sei sambar no seu compasso e por um passo errado ou um beijo mal dado, perco os braços, escorrego no ar e desabo no chão.




-Fev.2015-

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Euforia

Não cabe em mim
Não consigo
Também não cabe em palavras
Não cabe na minha boca que enche d'água de vontade de falar
Não cabe no meu sorriso
Tampouco cabe nos meus olhos que sempre entregam o jogo
Dessa vez nem consigo disfarçar
E é sempre assim
É uma corrente frenética que toma conta de todo o meu corpo
Me tira todo o ar
Me toma por inteiro
Mordo a língua
Exalo felicidade
E eu já não consigo controlar
Todo o meu corpo vibra
E minha garganta arranha
Disfarçar é inútil
E tampouco consigo descrever
É que é tão grande
Que já não cabe em mim



-Dezembro.2014-

Desapego

Quero deitar no seu colo
E descarregar o peso do mundo
A tristeza de ser ninguém
E a dor do vazio
Já não há mais forças
Não respiro de novo
E antes de dormir sempre tenho medo de tudo
Medo de deitar no seu colo
Medo de não ter onde deitar
Medo de estar sozinha
E também de não estar
E até de ter você
Pois é sempre você que eu quero
Mas nem sempre é de você que eu preciso

Quero deitar no seu colo
Te falar dos meus anseios
Que eu tenho medo de mim
E tenho medo até de você
Você não consegue me olhar nos olhos
Não enxerga minha dor
Se nega, se finge de boba
Mas não para de sorrir
E repetir bobagens sem sentido
Até que se prove o contrário
E não se prova
Não pra mim

Quero sair do seu colo
Quero sair correndo
Voando, gritando, esquecendo
Deixando de lado toda a tristeza do mundo
Todo o medo, a agonia, o apego
Deixando você para sempre
Não é que eu não te queira mais
É que eu ainda me quero
E nem sempre eu me tenho
Não com você ao lado

Quero a coragem pra ir embora
E nunca olhar pra trás
Ser alguém que eu nunca pude ser
Ser ninguém, já não importa mais
Não quero mais ser
Não quero colo
Quero correr



-Janeiro.2015-

Eu me pertenço

E no momento em que avistei o horizonte, tomei uma inspiração profunda e corri.
A areia fofa não me impedia de andar, eu planava sobre ela mais rápido que o vento e enquanto corria, despia toda a minha roupa e meu medo da solidão.
Ia me aproximando cada vez mais da água e meu coração disparava a cada passo. O mar infinito cortado pelo horizonte sob o céu aquarelado e eu, nua, sozinha, feliz.
Ao tocar meus pés nas espumas, pulei as cinco primeiras ondas e mergulhei em direção ao fundo do mar, ralando os joelhos na areia e voltando a superfície.
Quando abri os olhos, encarei o céu. No meu rosto escorriam gotas salgadas e percebi que o oceano não era nada mais, nada menos que minhas lágrimas de liberdade.
Metade do céu pertencia à Lua e o azul me afagava carinhosamente e sussurrava palavras de conforto aos meus ouvidos. Todo o amor do mundo estava nos olhos brilhantes daquela Lua.
A outra metade tinha sido tomada pelo pôr-do-sol, que preenchia meu coração de amor e liberdade. O calor agradava minha pele, me engolia e aquecia meu coração gelado.
Abaixo do horizonte, um mar prateado. As ondas cessaram e o vento mudou de direção, refletindo na superfície todas as estrelas que brilhavam lá de longe do universo.
Eu, o mar, o sol e a lua, nos pertencemos e somos um só corpo celestial, livre pra amar eternamente a nossa existência.


-Sem data definida-

Apego

Queira vir
Queira a mim
Sinta vontade
Não se perca no tempo
Não me perca por nada
Que eu já decidi ficar
Mergulhei nesse mar estranho
Imergi na escuridão do medo
E se á noite você vem
Desde sempre fico sem ar
Só não esqueça de avisar quando for se atrasar
Que eu quero livrar meu pulmão
Desse oceano de saudade
E se seus planos mudarem
Se eu não for mais tão importante assim
Por favor deixe-me passar
Que ainda da tempo de fechar a porta
E deixar que o medo tome conta
Mas não me faça chorar
Que na primeira lagrima escorrida
Me derreto e evaporo
E só vai sobrar o pior de mim


-Dezembro.2014-

São os astros

Te vejo sol
Me sinto lua
E juntas contemplamos o infinito
Se faz luz nos seus olhos
E dentro da boca guardo um universo
Que é todinho seu
E o tempo para
Pra ouvir o coração bater nas nossas mãos


-Dezembro.2014-

Farelos ao vento

Com os olhos cansados e a boca seca
A vontade não passa
E a cama é grande
Quero você cabendo aqui, pequena
Nos meus braços
Te pego no colo e te sufoco
De tanta euforia
De tanta agonia
De tanto amor
Que não cabe em nós

Os olhos aflitos
Á procura
Passo as mãos por entre os pés
E você não vem
Abro a janela
Deixo o vento entrar
Pra te trazer perto do meu infinito azul
Ninho dos ventos
Um sussurro que se faz
Posso ouvir o seu coração pulsando aqui embaixo
Nos nossos pulsos ritmados em cor

Já são quatro da manhã
E os passarinhos assobiam
Anunciando que já raiou o dia
Quero levantar e sentir o sol
Queimando meus cabelos
Pedalando ao seu encontro
Com a manhã ainda fresca
O mar me acompanha
O céu me engole

E mesmo pela metade
Vou catando o que sobrou
Da noite despedaçada
E entre alguns cacos esfarelados
Sempre há motivos
Pra te encontrar
E é por isso que eu sempre vou
Não importa onde
Só pra te ver passar

-Novembro.2014-





Sobre essa sua gastrite

A gente sorri
Mas esconde nos dentes
Uma incerteza onipresente
Uma mágoa ardente
Que quando mal digerida
Dá sinal de gastrite

E se os olhos delatam
E deságuam o desespero
O medo dilata
A dor que mastiga o peito

Ensaiamos uma dança
Que bailamos sozinhas
Cada qual com seu compasso
Cada passo, uma melodia

Esbarramos em alguns momentos
Mas se não há sintonia
A música acaba, os pés escorregam
E no final estamos sempre sozinhas


-Janeiro.2015-