segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Conta gotas

Menina chuva
Que não para de doer
Não deixa a neblina secar
Não deixa a tristeza escorrer
No fundo carrega uma dor
Um choro engasgado no peito
Um sufoco atordoado
E faz trovão, garoa, deságua
E cospe toda a mágoa
Que lhe engole o ser

É rio que corre ao contrário
É chuva que mata afogado
É raio de prata apagado
É nuvem em dia nublado

Ela chora dia e noite
E o céu sempre sabe
Que ela morre aos pouquinhos
A cada entardecer


-Dezembro.2014-

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Pulso ritmado em cor

Se me olha, eu sorriso
Se me toca, eu sorriso
Se me cheira, eu sorriso
Se me beija, eu desmancho
Se me deixa, eu deságuo



-Novembro.2014-

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O voo

Minhas asas são enormes
Coloridas, cada uma de uma cor
Quanto mais crescem as asas
Mais ama o coração

É que'u também sou passarinho
E faz um tempo, aprendi a voar
Meu amor me alimenta
Meu coração alça voo

Não se assuste, menina
Eu sou livre pra amar
Se pousei nas suas pétalas
É aqui que quero estar

(E há motivo mais nobre do que ficar por amor?)

Não tenha medo, não vou embora
Me sinto livre, te permito em mim
Mas não me prenda jamais
Que meu amor não cabe em gaiola


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Fascículos

Te vejo em fascículos
Mas sempre por inteiro
E te olho pausadamente
Pra que cada momento perdido
em seus olhos onipresentes
Se ganhe em beijos intermináveis
Que se tornam as melhores lembranças
Das horas de solidão


-Outubro.2014-

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Não se afogue

Queria te levar na praia. Queria deitar na areia ao seu lado e sentir a água gelada cobrir nossa pele nua. Com o céu ainda fresco de um nova manhã, o sol nasce por trás dos morros colorindo seu sorriso. Eu queria dançar com você, ainda de manhã, com os pés descalços sentindo a areia por entre os dedos. Nem precisamos de música: somos a própria essência do ser em sua mais pura forma de amor. Nós pertencemos ali e uma a outra. Quero assistir o caminho de cada nuvem e ouvir as ondas desaguando em espuma. Quero segurar a sua mão, o seu cabelo, a sua cintura. Quero te ver entrar no mar e cada gota salgada que escorre pela sua pele.
É que o mar é minha casa. Meus cabelos são extensões das ondas e meus olhos se perdem no horizonte. Te quero exatamente aqui, mergulhando no oceano infinito dos meus medos e saindo completamente ilesa.

Stay

Primeiro vem os raios de sol, que nascem no parapeito da janela e aos pouquinhos vão invadindo o quarto numa claridade serena. Acordamos quase no mesmo instante e ficamos nos embolando em meio a beijinhos, olhos entre-abertos e sorrisos desengonçados.
Depois vem a saudade. Sim, ver você ir embora tão cedinho, com a manhã ainda fresca, me dá saudade. Por mim você ficava. Por mim, nos deitaríamos novamente e passaríamos o dia nos acariciando e nos encontrando em olhares desentendidos. Não se esconda atrás desses olhinhos.. Não tenha medo de me olhar fervorosamente: toda a verdade sobre mim está nos meus olhos e quando a olho, menina, quero lhe mostrar o meu mundo e lhe convido a mergulhar nesse infinito de água salgada. E então você sai pela porta e leva contigo toda a minha decência. A partir desse momento, todo o meu anseio vem á tona. Quero te ver logo, de novo, agora. 
Don't fade away.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Sobre o choro

Chorar é excomungar-se de tudo aquilo que me esmaga o peito.
Não é tristeza - é livrar-se dela.
Chorar é desaguar a dor em desabafos não verbais e dissolver o âmago infinito de misérias sofridas.
Chorar é visceral. É desprender-se. É coragem de se mostrar verdadeiramente livre do sofrimento mais profundo. E também coragem de assumir que existe um sofrimento tão profundo, a ponto de alagar as entranhas e despejar alívios.
Chorar é soluçar as mágoas engasgadas e substituí-las por aconchego e esperança.
Chorar é liberdade de doer. É enfrentar o sofrimento de peito aberto e expulsar toda a tristeza que apodrece o coração.
Chorar é o primeiro passo para seguir em frente. 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Tudo mentira


Na verdade eu fiquei possessa.
Na verdade você não devia estar lá, eu não queria te ver
Na verdade, você me incomodou mais do que deveria
É que eu tive um dia tão bom
Na verdade, tive um dia solitário

Na verdade, eu senti vontade de falar com você
Senti vontade de saber como você estava e se tinha sofrido por mim
Na verdade você não tinha
E queria te abraçar
Na verdade, queria um beijo
Mas não beijei
E pra falar a verdade, fiquei triste quando não te vi mais

Me arrependi de ter pedido pra você voltar
Na verdade, foi bom você ter voltado
As coisas fluíram de uma forma bem mais saudável depois que nos falamos
Na verdade, eu queria que você tivesse ido embora depois da fluidez
Apesar de ter sido estranho não ter você sentada ao meu lado
Na verdade, eu tive esperanças
E de verdade, queria que você voltasse agora
Só pra me dizer se sentiu minha falta
E se tudo o que você disse era verdade

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Gratidão

A solidão tem me acompanhado.
A saudade também.
E agora eu quero cuidar de mim.
Me aquarelar e me cobrir de nanquim
Dançar nas luzes da objetiva
Moldar meu universo em origami
Sujar a unha de terra
Corar no sol e na maresia
Bordar amarras de cor
Beijar profissionalmente
Comer saúde e quem saber perder uns quilinhos
Brilhar nas canções de poetas clássicos
Saudar ao Sol e ao Divino
Praticar minha respiração
Musicar meus lábios
E ser feliz agora e amar pra sempre
A mim mesma.


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Varanda

Mordo os lábios manchados de vinho e pinto a ponta do terceiro cigarro que você tanto gosta. Não me viro de frente para não ter que encontrar seus olhos que sempre estão fixos nos meus e para onde quer que eu olhe, você me acompanha. Não há luz suficiente e mesmo assim escondo meu medo.
Sim, jogamos o mesmo jogo, se é assim que você prefere chamar, mas nosso perfume é diferente e se mistura no sofá da sala e no tapete do chão.
Porque você me olha assim?
Não vê que eu preciso respirar?

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Me chamo Ícaro

Quero me mudar daqui.
Quero mudar de casa, de cidade, de corpo e principalmente de alma.
Quero livrar minhas asas e percorrer o céu tocando o mar com os dedos, planando entre o limite do horizonte e do infinito.
Quero que meus olhos vejam o mundo de cabeça pra baixo e que minha pele se derreta nos raios de sol.
Quero embolar as nuvens na palma da mão e enfiar na boca, lamber os dedos melados de açúcar.
Quero gritar mais alto que nunca, arranhar minha garganta, me engasgar com o vento e  deixar os lábios secarem até se partirem.
Me perco em tanta agonia. Meu nome é ansiedade.
Quero voar o mais rápido e alto que puder, quero ser Ícaro e me embriagar de tanta luz.
Quero preencher meu vazio com todo o oxigênio do mundo, até explodir em milhões de pedacinhos que se transformarão em gotas de solidão e inundarão seus olhos.
Quero pular da janela do meu quarto, da sala, quero abrir a porta do carro, quero voar no seu pescoço e te estrangular até a morte.
Quero me perder na escuridão da galáxia e fazer de toda estrela, luz dos meus olhos.
Quero um meteoro com meu nome e quero Melancholia colidindo com a terra, de preferência bem em cima do seu corpo, esmagando cada pedacinho do seu ínfimo ser, até que não sobre nada mais que remorso e arrependimento.
Quero me deliciar nas suas lágrimas, sorrir ao te ver sofrer, te fazer sentir uma dor infinita, queimar suas entranhas e jogar o que sobrar pra os peixes comerem e cagarem em um canto qualquer do oceano faminto.
Quero que a ressaca do mar te traga de volta, te faça areia, pedra, chão, barro, ser.
E quero que comece tudo de novo.
Quero estar lá em cima ao ver tudo acontecer.
Quero muito que isso se repita quantas vezes forem necessárias pra te fazer sentir toda a dor que você me proporcionou.
E mais que tudo, quero morrer de vazio, de indiferença, de descaso e virar pó de fada, pra ser eternamente livre e poder planar pelo infinito sendo qualquer coisa que você não consiga alcançar.

Acalanto (o barco e eu)

Se o carro balançava, o barco balançava ainda mais.
Na margem, salgado. No mar também.
Era eu e ele, ele e eu, e a tempestade á nossa espera.

O gosto de sal no canto da boca, vinha do mar de lágrimas que nos embalava. Nossa tontura justificava os calafrios e o vento gélido que soprava contra nossos cabelos aclamava o pranto. 
Então tínhamos uma tempestade a nossa frente e o fantasma de um futuro certeiro que infelizmente, estava escrito no mapa astral e nos amedrontava. Não tínhamos escapatória e a solidão nos saudava. Podia sentir minhas vísceras congelando e a dor era insuportável: doíam os olhos cansados, os lábios cerrados, a garganta cortada e o peito arrancado.
Então estávamos eu e ele á deriva na solidão. Nossos esqueletos boiavam no oceano negro que era tão imenso quanto nosso desespero. Não havia terra firme, não havia salva-vidas, não havia nada além da nossa dor.
E se no horizonte havia medo, nos encontrávamos em meio a ele. Sem direção, íamos indo onde a maré nos afogava e entre soluços e suspiros profundos, algo nos puxava para o fundo do oceano. Era difícil de respirar, apesar de o mar ser tão natural para ambos, pois sempre nos aventurávamos em suas ondas famintas e saíamos ilesos. Mas dessa vez, nadávamos em um pesadelo de melancolia e desespero. 
No fundo do mar, monstros nos esperavam com suas bocas arreganhadas e seus olhos intimidadores, e na superfície, cumulus nimbus de tamanhos descomunais engoliam o céu e despejavam uma chuva tão ácida quanto nossas lágrimas. E íamos nos embolando entre rajadas de ventos certeiros, ondas macabras, monstros devoradores, futuros melancólicos, tempestades mortais, dores nas entranhas, gosmas nos olhos, calafrios amedrontadores e qualquer coisa que possa ser extremamente assustadora.
E antes de perder toda e qualquer esperança, joguei uma garrafa e um pergaminho escrito á sangue o mais longe que pude, na esperança de ser salva por você. 
"Não".
Me deixei levar pelo mar. Estava perdida, eu e ele, na imensidão do oceano -que não era maior que minha mágoa- e fui reduzida a um insignificante grão de areia perdido na profundidade do meu medo.


E aquele foi meu último suspiro.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Glacê

Ao som de gotas de chuva estalando na janela
E em outras cinco janelas, elas
Um poema glacê
Pois tudo sobre mim é doce
Fleur Chérie
Sobre morangos e melodias
Sobre dúvidas e temperos
Sobre a tortura e a carência
Sobre o passado e o desejo
Sobre você e eu

Fleur Chérie.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Canela, limão e amarelo

Essa boca doce
Não sei, me confunde
E quando penso que acertei, vem a romã
Esses lábios cor de romã
Não consigo parar de beija-los –ou morde-los
E tem os olhos, cor de
Não sei, me confundem
E quando penso que acertei, vem a melodia
Esses seus olhos, que são melodia pura e que coram minhas bochechas inflamadas
E tudo sobre você me deixa assim, boba, derretida, envergonhada
Completamente apaixonada
Seu riso muito mal escondido, seus dedos compridos, seu cheiro de canela, limão e amarelo
Todas as cores do seu carinho
Eu preciso desesperadamente do seu sorriso
E que seus dedos entrelacem meus cabelos
E que seu hálito quente sopre meu rosto
E que nossos olhares –envergonhados– se cruzem e façam música e amor
E que todas as luzes coloridas da cidade se acendam ao nos ver passar
E que toda a sua doçura possa ser deliciada

E principalmente, que tenha gosto de morango. 

Eu, que sou feita de Amor

Cada face com sua metade 
E pra cada metade, um Amor inteiro.
Coração inteiro, corpo inteiro, alma inteira
Olhos pela metade -e você gosta- mas um olhar inteiro.
E tudo infinito, pois sou infinitas vezes
E o Amor que eu sinto é maior que eu,
Maior que você 
Maior que todas as faces, todas as marés e toda a minha tristeza infinita.