terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Euforia

Não cabe em mim
Não consigo
Também não cabe em palavras
Não cabe na minha boca que enche d'água de vontade de falar
Não cabe no meu sorriso
Tampouco cabe nos meus olhos que sempre entregam o jogo
Dessa vez nem consigo disfarçar
E é sempre assim
É uma corrente frenética que toma conta de todo o meu corpo
Me tira todo o ar
Me toma por inteiro
Mordo a língua
Exalo felicidade
E eu já não consigo controlar
Todo o meu corpo vibra
E minha garganta arranha
Disfarçar é inútil
E tampouco consigo descrever
É que é tão grande
Que já não cabe em mim



-Dezembro.2014-

Desapego

Quero deitar no seu colo
E descarregar o peso do mundo
A tristeza de ser ninguém
E a dor do vazio
Já não há mais forças
Não respiro de novo
E antes de dormir sempre tenho medo de tudo
Medo de deitar no seu colo
Medo de não ter onde deitar
Medo de estar sozinha
E também de não estar
E até de ter você
Pois é sempre você que eu quero
Mas nem sempre é de você que eu preciso

Quero deitar no seu colo
Te falar dos meus anseios
Que eu tenho medo de mim
E tenho medo até de você
Você não consegue me olhar nos olhos
Não enxerga minha dor
Se nega, se finge de boba
Mas não para de sorrir
E repetir bobagens sem sentido
Até que se prove o contrário
E não se prova
Não pra mim

Quero sair do seu colo
Quero sair correndo
Voando, gritando, esquecendo
Deixando de lado toda a tristeza do mundo
Todo o medo, a agonia, o apego
Deixando você para sempre
Não é que eu não te queira mais
É que eu ainda me quero
E nem sempre eu me tenho
Não com você ao lado

Quero a coragem pra ir embora
E nunca olhar pra trás
Ser alguém que eu nunca pude ser
Ser ninguém, já não importa mais
Não quero mais ser
Não quero colo
Quero correr



-Janeiro.2015-

Eu me pertenço

E no momento em que avistei o horizonte, tomei uma inspiração profunda e corri.
A areia fofa não me impedia de andar, eu planava sobre ela mais rápido que o vento e enquanto corria, despia toda a minha roupa e meu medo da solidão.
Ia me aproximando cada vez mais da água e meu coração disparava a cada passo. O mar infinito cortado pelo horizonte sob o céu aquarelado e eu, nua, sozinha, feliz.
Ao tocar meus pés nas espumas, pulei as cinco primeiras ondas e mergulhei em direção ao fundo do mar, ralando os joelhos na areia e voltando a superfície.
Quando abri os olhos, encarei o céu. No meu rosto escorriam gotas salgadas e percebi que o oceano não era nada mais, nada menos que minhas lágrimas de liberdade.
Metade do céu pertencia à Lua e o azul me afagava carinhosamente e sussurrava palavras de conforto aos meus ouvidos. Todo o amor do mundo estava nos olhos brilhantes daquela Lua.
A outra metade tinha sido tomada pelo pôr-do-sol, que preenchia meu coração de amor e liberdade. O calor agradava minha pele, me engolia e aquecia meu coração gelado.
Abaixo do horizonte, um mar prateado. As ondas cessaram e o vento mudou de direção, refletindo na superfície todas as estrelas que brilhavam lá de longe do universo.
Eu, o mar, o sol e a lua, nos pertencemos e somos um só corpo celestial, livre pra amar eternamente a nossa existência.


-Sem data definida-

Apego

Queira vir
Queira a mim
Sinta vontade
Não se perca no tempo
Não me perca por nada
Que eu já decidi ficar
Mergulhei nesse mar estranho
Imergi na escuridão do medo
E se á noite você vem
Desde sempre fico sem ar
Só não esqueça de avisar quando for se atrasar
Que eu quero livrar meu pulmão
Desse oceano de saudade
E se seus planos mudarem
Se eu não for mais tão importante assim
Por favor deixe-me passar
Que ainda da tempo de fechar a porta
E deixar que o medo tome conta
Mas não me faça chorar
Que na primeira lagrima escorrida
Me derreto e evaporo
E só vai sobrar o pior de mim


-Dezembro.2014-

São os astros

Te vejo sol
Me sinto lua
E juntas contemplamos o infinito
Se faz luz nos seus olhos
E dentro da boca guardo um universo
Que é todinho seu
E o tempo para
Pra ouvir o coração bater nas nossas mãos


-Dezembro.2014-

Farelos ao vento

Com os olhos cansados e a boca seca
A vontade não passa
E a cama é grande
Quero você cabendo aqui, pequena
Nos meus braços
Te pego no colo e te sufoco
De tanta euforia
De tanta agonia
De tanto amor
Que não cabe em nós

Os olhos aflitos
Á procura
Passo as mãos por entre os pés
E você não vem
Abro a janela
Deixo o vento entrar
Pra te trazer perto do meu infinito azul
Ninho dos ventos
Um sussurro que se faz
Posso ouvir o seu coração pulsando aqui embaixo
Nos nossos pulsos ritmados em cor

Já são quatro da manhã
E os passarinhos assobiam
Anunciando que já raiou o dia
Quero levantar e sentir o sol
Queimando meus cabelos
Pedalando ao seu encontro
Com a manhã ainda fresca
O mar me acompanha
O céu me engole

E mesmo pela metade
Vou catando o que sobrou
Da noite despedaçada
E entre alguns cacos esfarelados
Sempre há motivos
Pra te encontrar
E é por isso que eu sempre vou
Não importa onde
Só pra te ver passar

-Novembro.2014-





Sobre essa sua gastrite

A gente sorri
Mas esconde nos dentes
Uma incerteza onipresente
Uma mágoa ardente
Que quando mal digerida
Dá sinal de gastrite

E se os olhos delatam
E deságuam o desespero
O medo dilata
A dor que mastiga o peito

Ensaiamos uma dança
Que bailamos sozinhas
Cada qual com seu compasso
Cada passo, uma melodia

Esbarramos em alguns momentos
Mas se não há sintonia
A música acaba, os pés escorregam
E no final estamos sempre sozinhas


-Janeiro.2015-